De uns tempos para cá cada vez mais candidatos a vereador têm aparecido ou com maior frequência e entusiasmo, ou se fazem representar em ocasiões ou situações nas quais geralmente não tiveram tempo de comparecer durante os quase quatro anos anteriores. Até então, da parte de alguns, só cartões de fim de ano e de aniversário, quanta vez, inclusive, para vizinhos e familiares falecidos há anos.
Como suas agendas repentinamente agora lhes permitem, seus humores e disposição melhoraram: sorriem mais, cumprimentam mais, tiram fotos, fazem selfies, se colocam a disposição, elogiam, chamam todos de amigos e homenageiam cidadãos que tenham o predicado do título eleitoral. Estou preocupado, pois, como ficam tão bonzinhos e não sabem dizer não, aceitam pedidos os mais variados, prometem tudo quanto é coisa, só para não dizer não e precisar explicar que quase tudo que lhes é pedido e que prometem não atenderão e nem tem a ver com atribuições de vereador…
Como muitas vezes não conseguem cumprir as promessas que fazem, desconfio, devem sofrer tanto que precisam de quase quatro anos para recuperar e criar coragem para voltar aos eleitores, prestar-lhes contas dizendo que não fizeram isso ou aquilo por culpa de alguém de outro partido que votou contra, não sancionou ou não liberou verba. E agradecer-lhes pela confiança dada na urna e pedir-lhes uma nova chance, pois, agora sim, vão cumprir tudo que prometeram ou prometerem, não importa o que…
Impressiona o número de conversões ou declarações de cristianismo, principalmente, nesta época: o que se descobre quantos candidatos são católicos, protestantes, pentecostais, por exemplo, é uma grandeza. Estranho que ao perguntar por que não são vistos regularmente na comunidade religiosa e em serviços correspondentes, e ao tentar uma conversa fundamentada sobre a doutrina e as celebrações litúrgicas e atividades pastorais, em geral desconversam, não são convincentes, falam tolices e heresias; acho, deve ser porque suas conversões também acontecem após um deserto de quase quatro anos, seguido duma providencial atração que deve ser provocada por algo sobrenatural contido no formato ou cheiro da urna eleitoral. Seria isso? Se for, deve ter algum efeito colateral que, quem sabe, explique a motivação para que alguns mudem suas manifestações de crença e religião conforme mudem de local e de público...
Talvez, seja o mesmo efeito que faz com que ajustem discursos, sem receio de contradizer falas anteriores, e oscilem entre sentar no colo da oposição ou da situação, dependendo de questões que não costumam ser ditas clara e detalhadamente aos eleitores.
Não são apenas os vereadores que se dizem duma região que sofrem desses probleminhas e precisam da compreensão dos eleitores. Aliás, vereador é da cidade e não do bairro ou região; e eu é que devo ser limitado por não entender as razões pelas quais eleitores exigentes demais, indelicadamente, dizem que vereadores costumam se portar como sendo dum determinado bairro ou somem dele conforme conveniências eleitorais ou eleitoreiras…
Como sofrem uns desses e como é providencial que sejam bem remunerados, apesar de alguns garantirem ganhar pouco, para custear seus indispensáveis remédios e tratamentos ao longo de quase quatro anos de uma espécie de indigência de energia e de correspondência ao que se alardeou durante os breves dias nos quais se pediu votos de cedo à noite, sem folgas e para todos aos quais se conseguiu alcançar.
Não se fale que essa gente não tem esperança e perseverança: uma porção está há tempos tentando cumprir ao menos quatro anos de saudáveis e regulares atividades legislativas. Quando saem a pedir votos – ou os seus prepostos – esbanjam vitalidade, simpatia, alardeando, mais que a expectativa, a certeza de que nos quatro anos seguintes tudo vai ser diferente, muito melhor ou finalmente vai acontecer...
Deve ser algo altamente contagioso e igualmente cíclico: você nota quantos são acometidos pelos mesmos sintomas? Não entendo: se virar vereador às vezes pode gerar a enfermidade que resulta em quase quatro anos de distanciamento ou isolamento social, entre disfarçado e descarado, do serviço e do cidadão, e apenas parcos meses de saúde e atração pelo eleitor, por que tantos querem se submeter? Talvez, a dedicação e desprendimento deles sejam tamanhos, que minha mediocridade não me permita entender…
Não se fale mal do eleitor em geral: como tem gente de coração bom a compreender e a dar nova chance a candidatos, esperançosos de que finalmente mais que um ou outro conservem a disposição dos dias que antecedem as eleições, mesmo acostumados que minutos após o fechamento das urnas costumem voltar os sintomas que geram sumiço, apatia, afastamento das pessoas e coisas assim…
Sugiro não votar nas habitualmente vítimas desses sintomas ou males: pelo bem deles, não permita que permaneçam sob tão grande sofrimento. Diante da urna eleitoral, ignore-os e contribua para que vão fazer algo que não cause eleitorfobia ou cidadãofobia e lhes permita trabalhar quatro anos durante cada quatro anos, como empregados ou empreendedores, e não apenas os meses coincidentemente anteriores às eleições...
Também entre os que nunca foram e vivem tentando ser, pelo bem deles, pesquise e observe com atenção o histórico, predicados e intenções reais: ao perceber os sintomas, tendências, contradições, omissões etc, ajude-os e também ignore todos na urna eleitoral.
No meio de uma multidão repleta de candidatos à (re)eleição, cuja saúde e bem estar não podemos prejudicar com o nosso honrado voto, alguns são saudáveis e com anticorpos suficientes para legislar e servir bem durante os próximos quatro anos: se esforce para identificar e votar num dentre esses!
Caro cidadão, o artigo acima se vale de ironia, mas, é muito sério. Grande parte da população não se interessa por esta atividade que nos afeta a todos. Entre os que se interessam nem todos são e se mantém minimamente bem informados e formados, e nem todos costumam ter as intenções e comportamentos que dizem esperar ou exigir de vereadores, prefeitos e outros detentores de mandatos eletivos. E quase todo mundo se repete em opiniões e palpites, geralmente, equivalentes ao que é comum entre destemperados torcedores de futebol...
Se você está lendo estas linhas, a esperança é a de que esteja entre aqueles que, como eu, apesar de tantas limitações e dificuldades, tentam mais acertar que errar no exercicio da cidadania: votando, acompanhando, colaborando, cobrando.
Sempre haverá injustiça e desigualdade. A sociedade é uma obra inacabada e inacabável e cada um de nós também o é. Uma parede se constrói com muitos tilojos, armamassa e outros materiais, projeto, ferramentas e técnica. Na parede chamada sociedade cada um de nós equivale a um só tijolo, um pouco de argamassa etc: cabe-nos o direito de escolher e esforçar para sê-lo ao nível da excelência, contribuindo com o todo, melhorando a nós mesmos e ajudando a que outros também experimentem.
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José Carlos de Oliveira