O puxa-saco
Cidadania e política
Publicado em 15/07/2024

Podemos chamá-lo também de baba-ovo, lambe-botas, beija-mão… O bajulado, então, pode chamá-lo como, onde e quando quiser, que o sabujo está sempre ao seu dispor, pronto para acender seu cigarro, encher seu copo, abrir sua porta e lhe oferecer préstimos de servo, vivendo fielmente o lema “quem não vive para servir, não serve para viver”. Tão interesseiro quanto tolo, o puxa-saco supõe ser merecedor de algo em troca pelos serviços prestados. Mal sabe ele que no puxa-saquismo não há reciprocidade e sim mão única: enquanto o bajulador abusa da sabujice, o bajulado só usa o sabujo. Mas, afinal, qual é a origem desse ser rastejante?

Reinaldo Pimenta, no livro A Casa da Mãe Joana, explica que a expressão “puxa-saco” surgiu nos quartéis, onde os oficiais subalternos gentilmente exerciam o subserviente ato de transportar os sacos de roupas e pertences dos oficiais superiores. Como a pesada bagagem tinha que ser arrastada, os prestativos soldados ficaram conhecidos como puxa-sacos, termo que vem a calhar nesses tempos de exaltação civil às Forças Armadas. Quer mostrar pra todo mundo seu amor ao Brasil, patriota servil? Agarre um saco camuflado sem dissimulação, com braço forte e mão amiga. Pau-mandado acima de tudo? Sim, senhor!

Incontáveis puxa-sacos há por aí. Fichados, efetivos, terceirizados, autônomos, eleitos… Tem puxa-saco que faz hora-extra na rasgação de seda. E tem aquele que almeja alcançar a aposentadoria por tempo de bajulação. Mas puxa-saco de verdade não tira folga: adula o guarda, a patroa, o padre, a professora, o dono da bola, a dona do pedaço, o primo rico, a primeira-dama, o mandachuva, a madame… É cidadão feudal em tempo integral.

Com o aumento da quantidade de mulheres em cargos de comando, tem puxa-saco que virou puxa-saia (Alô Houaiss, Silveira Bueno e Aurélio, que tal incluir este verbete nas próximas edições?): é o bajulador babão, que trabalha para agradar a chefa, no limite entre a lisonja e a libido. O puxa-saia sabuja salivando tanto que talvez devesse adaptar um babador no crachá.

O puxa-saco do puxa-saco é outro fenômeno: acontece quando um puxa-saco encontra um puxa-saco para chamar de seu e fica no meio, puxando e sendo puxado. Se o puxa-saco suplementar tenta tomar o lugar do puxa-saco principal, este abre o olho e firma a mão. Aqui não, eu puxei primeiro. Mas vai que eles chegam a um acordo para bajular juntos. Nesse caso, coitado do bajulado. Se um puxa-saco já enche o saco, imagina mais de um ao mesmo tempo. É como se Rolando Lero, Armando Volta e Batista se juntassem para enaltecer o amado mestre digníssimo guru admirável Professor Raimundo. Quanta reverência… 

Haja saco! Haja mesmo, pois logo vem mais um vassalo, mais um lacaio, mais um capacho. E o cordão dos puxa-sacos cada vez aumenta mais…

 

Diogo Tadeu Silveira - Autor do livro Cronicando

 

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