Sobre a necessidade de sempre ser visto, elogiado e aprovado!
Não cato assuntos para escrever. Respondo a quem me pergunta.
O assunto de hoje atinge a todos os que postam mensagens nas redes sociais, sobem ao palco ou têm ou buscam visibilidade.
A pergunta vem de GGL, jovem católica, estudante de psicologia que analisou em aula quinze padres e quinze pastores frequentes usuários da internet. Diz que percebeu a diferença entre o meu uso da rede social e a de outros comunicadores da fé.
Agradeço, cara GGL, mas há centenas de padres e pastores que estudaram teologia, psicologia e comunicação e que aprenderam a dar destaque à mensagem e não a si mesmos.
Não sou o único religioso que põe a mensagem em primeiro lugar. Para eles, também, o mensageiro levanta a placa e a mensagem acima da cabeça e não abaixo do peito. Vale dizer: o que se destaca é o conteúdo e o dizer e não o rosto do mensageiro. Dei 32 anos de aulas de Prática e Crítica de Comunicação entre as Igrejas. Infelizmente é verdade que entre católicos e evangélicos pentecostais, ultimamente sacerdotes e leigos, o modo e o jeito de pregar escapou do púlpito, do palco e da internet. Aparecem ‘mais eles’ do que o conteúdo social, espiritual e bíblico!
Se tiveram aulas sobre o tema, esqueceram! Aparecem demais, gritam demais, xingam demais, pregam irados demais, acentuam demais o que deve ser corrigido no ouvinte ou telespectador, enquanto raramente se colocam como cristãos também penitentes. Faltou o 'eu também sou pecador'.
A placa que carregam é 'mudem de vida' ao invés de 'mudemos de vida'.
Raramente se incluem entre os que também precisam de conversão!
Em alguns casos, se nos perguntassem, aconselharíamos acompanhamento com psicólogo ou psiquiatra. É evidente sua carência de atenção, ou sua ira contra o mundo que, apesar de pecador, Deus ama! Querem converter a assembleia aos gritos. São os novos Boanerges das igrejas. Boanerges pode ser traduzido como espalhafatosos! Jesus corrigiu isto no ato! (Mc 3,17)
Resumindo: o que transparece é o pregador ou pregadora encantados com o microfone, com as câmeras e com os seguidores que conseguiram.
Na era da imagem onipresente sentaram-se em cima da Palavra e a esmagaram. É 'eu' demais e 'Deus e Igreja' de menos!…
Em outras palavras: questão de equilíbrio!
O que seria evangelizar hoje
Eu nunca vi Deus. Nunca vi o Pai, nem o Filho Jesus, nem o Espírito Santo, nem nenhum anjo, nem Maria, nem nenhum santo.
Ninguém do Céu me apareceu nestes meus 82 anos de vida. Nunca ouvi vozes do Céu. Não falo em línguas. Faço de tudo para não aparecer demais. Não sou fã de holofotes sobre mim.
Não digo que curo as pessoas com minha bênção sacerdotal. Não recebo sinais diretos do Céu. Se acontece, eu não digo. Deus viu e é o que me basta!
Sou um padre católico com alguns carismas, mas estou longe de ter visões, nem audições, nem recados. Vivo do dia a dia! Nem peço mais carismas e graças a mais. Nem sequer consigo administrar os que tenho.
A Bíblia que vivo estudando e lendo me diz que houve gente privilegiada que viu, ouviu e sentiu Deus. Eram gente fora do comum!
Ouço dizer e vejo que alguns padres, pastores e leigos que recebem sinais do Céu. Garantem curas e sinais ao seu comando. São porta-vozes do sagrado. Os fiéis passam diante deles para receber 'o milagre'. Vejo isso nos cultos de várias igrejas. Também na nossa.
Eu não recebo estes sinais, mas minhas leituras da fé me dizem que o Deus Uno e Trino está atuando no mundo, nas pessoas e em mim. Mas faço isto em silêncio!
Em mim ele atua de outro jeito. Não sou vidente e não posso dizer que já curei alguém impondo as mãos sobre algum fiel. Mas nunca nego uma bênção!
E quando acontece eu não falo nem dou testemunho. Fica entre Deus e a pessoa e eu! Tenho muito cuidado com estas coisas de testemunhar e alardear. Jesus também era cuidadoso com isto! Uma vez mandou os curados ir aos sacerdotes. Que lá eles dessem pessoalmente o testemunho. Mas ele não gostava de holofotes.
Aprendi a usar câmeras e microfones para pregar catequese e explicar a fé . Não aceito holofotes sobre mim. Prefiro que aquela luz passeie sobre o povo. Que o povo seja iluminado. E se o povo o for eu também serei!
Quanto menos luz sobre mim e quanto mais luz sobre o povo melhor! É isso que entendo por evangelização!
Menos holofotes e mais conteúdo! Amém e assim seja!
Com Deus Não Se Brinca (letra, música e interpretação: Pe. Zezinho SCJ)
Tenho medo do Cristo que passa
E me chama a seguir e não vou
Tenho medo da chance que passa
E eu nem vejo que a chance passou
Tenho medo de ser displicente
E deixar uma graça passar
Deus é bom, Deus é justo e clemente
Mas com Deus não se deve brincar
Tenho medo de falsos milagres
Testemunhos e revelações
A história está cheia de gente
Que afirmava ter tido visões
Todo mundo se engana algum dia
Todos nós poderemos errar
Mas a chance que Deus nos envia
É de nunca voltar a pecar
Nem louvores de mais nem de menos
Deus nos dê sentimentos e razão
Sua graça nos faça serenos
Sem brincarmos de religião
Falsos Cristos estão garantido
Ei-lo aqui, ei-lo ali, doem mais
Ele disse, ele andou prevenindo
Dessa gente ele vai cobrar mais
Pe. Zezinho SCJ (José Fernandes de Oliveira) - https://www.facebook.com/padrezezinhoscj
Escritor de mais de 300 livros, milhares de artigos e professor de comunicação, pioneiro e referência da música cristã; inúmeras dentre suas mais de duas mil canções (com letras sempre conforme a original doutrina cristã) estão entre as mais cantadas por católicos, evangélicos e outros, ainda que, geralmente, nem sequer saibam ser ele o compositor; foi considerado o padre cantor mais conhecido do mundo: feitos altamente notáveis, já que jamais se submeteu à mídia convencional, não fez e não faz média para agradar e tudo que arrecadou com seus livros, apresentações e discos foi e é destinado a obras sociais. Profundo estudioso e disseminador da história e doutrina da Igreja e das religiões, defensor do ecumenismo, do diálogo inter-religioso e do respeito entre os diferentes.