Um bom cristão cansou de coisas feias que acontecem na comunidade da qual participa. Como inúmeros outros fizeram e farão por motivos semelhantes, trocou de comunidade e não adiantou. Pensou em afastar-se, porém, antes, procurou-me. Escutei-o, desabafou e pediu que lhe dissesse algo. Falei que vivencio situações semelhantes, entretanto, tento ter outras atitudes. Daquele encontro resultou este artigo e, antes, a volta do bom cristão à sua comunidade religiosa. Sua identidade não vem ao caso e o título do artigo explica o motivo…
Ecl 1, 1-14; Mt 6, 1-18
Entre pessoas decentes e coerentes que me conhecem e sabem de algumas das atividades que realizo habitualmente, surgem cobranças para que as divulgue. Digo que o faço e me contestam dizendo que não divulgo quase nada: estão certíssimas!
Um dos meus formadores é José Fernandes de Oliveira (padre Zezinho): católico, ecumênico, poliglota, professor de comunicação, compositor, escritor e referência indispensável quando o assunto é comportamento, doutrina e música religiosa séria e feita corretamente. Entre os que o tem por referência ou fonte de consulta estão irmãos de outras denominações religiosas que não a católica, a começar por pastores, rabinos, monges – e ateus e agnósticos. Com ele aprendi que para as pessoas que se dedicam a servir a sociedade e comunidades importa que apareça o serviço e não o servidor, a mensagem e não o mensageiro.
Outro de meus formadores é o saudoso amigo Antônio de Souza Netto, advogado e catequista. Ciente que quem faz o bem sem olhar a quem, quanto mais incomodar quem não quer fazer do incômodo uma oportunidade para evoluir, quanto menos popular ou midiático for, quanto mais da casa for, tanto mais tenderá a ser desprezado, pirateado ou caluniado e difamado, dizia, com intenção e sabedoria confortadora: “José Carlos, Quem tem que saber, sabe!”
Cada vez menos fico chateado com os oportunistas que pirateiam meus textos, ideias e serviços e se apresentam como se fossem seus autores, mentores e realizadores; com os que me ignoram, caluniam e difamam ou dão por verdadeiro quem me calunia e difama – alguns, jamais sequer falaram ou estiveram comigo. Na vida profissional e voluntária, oferecendo recursos que qualifiquem e notabilizem comportamentos, propiciem a excelência que estabelece, alcança e supera os melhores objetivos, a partir dos valores éticos que aceito, realizo e recomendo, vejo gente maravilhosa e feliz, nem sempre conhecida e reconhecida, servindo sociedade e comunidades; vejo oportunistas obtusos e vaidosos conhecidos e reconhecidos imerecidamente, detratando e se servindo do próximo.
Das pessoas que me conhecem poucas sabem tanto do que fiz e faço para o bem do próximo, às vezes, delas próprias. Parafraseando bordão popular, sou um ‘serve quieto’. Não me faz falta ser conhecido e reconhecido pelo que sou e faço: alguns o sabem e é o que basta para que me ajudem, corrijam, entusiasmem e eventualmente experimentem. O que me faria falta seria deixar de ser e fazer: com humildade, serenidade, intensidade, vontade, fidelidade, felicidade; fundamentação em constante aprimoramento para melhorar e reduzir os impactos dos inevitáveis erros, incompreensões e injustiças.
Também nas comunidades religiosas, são inúmeros os derrotados pela vaidade e obtusidade e todos os sentimentos e comportamentos delas decorrentes, a começar pela inveja; mascarados de humildes, líderes, sábios, santos, que tudo fazem para se evidenciarem como mensageiros e servidores, aparentemente, do próximo e de Jesus, realmente, de si mesmos. Não se admitem como tais e nem é preciso: é como inevitavelmente acabam conhecidos e reconhecidos. Ou, bem sucedidas as suas farsas, suas consciências denunciam que elogios, fama e outros ganhos recebidos não correspondem ao que é justo e verdadeiro.
Jesus servia sem alarde e pedia que não alardeassem Seus feitos: poucas vezes respeitaram Seus pedidos. Jesus servia com imaculada finura e humildade, jamais tendo distorcido ou se apossado dos feitos alheios: até hoje os que dizem Segui-lo preferem obtusidade e vaidade ou facilmente caem nas tentações delas resultantes, não coram as caras quando distorcem, detratam ou se apossam dos feitos de terceiros.
No meu próximo amanhecer, como todos até então e doravante, antes que tenha meu primeiro sentimento, pensamento e intenção, Deus já saberá de tudo. Quando adormecer, Ele terá sabido de tudo. É desnecessário e contraditório alardear o que sou e faço; e uma temeridade alardear o que não sou e não faço e distorcer ou me apossar do ser e fazer alheio, ou, ainda, fazer de conta que não sei ou que não é comigo.
Também nas comunidades religiosas, tenho conhecido pessoas que se esforçam para ser e fazer conforme Ele ensinou e percebo que são crescentemente felizes conforme O sigam verdadeiramente; até eu, nas raras e caras ocasiões nas quais acertei o passo. Quando encarei meu espelho e, vendo finura e humildade, vi proximidade entre o que sou e o que pareço ser, vi minha compaixão, oração e serviço até para com quem me pirateou, ignorou e caluniou, vi meu entusiasmo para perseverar e melhorar; então, me senti um pouco menos incomodado com a verdade da qual ninguém escapará, nem de suas consequências:
“Quem tem que saber, sabe!”
José Carlos de Oliveira