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Quando púlpitos viram palanques!…
Por Administrador
Publicado em 30/09/2025 17:45
Fé, religião e espiritualidade

Há uma enorme diferença entre ser um supremacista e um moderador

 

Desde 1966, portanto, há quase sessenta anos, escolhi pregar a moderação na fé, na política e na sociedade. Fazia parte do carisma dehoniano. O fundador, pe. Dehon, era advogado, sociólogo, historiador e teólogo. Lutava pela “cultura do diálogo“! 

Quem me conhece sabe o que faço quando pego um microfone ou manejo um teclado. Até na canção eu penso no que direi ou cantarei, porque sei aonde acaba a radicalização. Fui educado para dialogar até quando me xingam. Chega o momento em que o jeito é apagar a ofensa. É como trancar o portão para visitante que veio para me xingar.

Cultivar raizes é atitute cristã, mas cultivar a radicalização é optar pelo oposto de qualquer projeto humano. Há diferença entre ser pessoa raiz e ser pessoa radical!    

A onda atual de radicalização política e religiosa no mundo tem milhares de precedentes na História. O mundo já conheceu massacres e verteu rios, lagos e mares de sangue, tudo por causa dos radicais na política e na religião.     

O estudioso de comportamento humano pessoal ou coletivo sabe quantas revoluções e quantas vidas foram desperdiçadas por causa dos “warmongers” criadores e cultivadores de guerra ou de confronto. Os livros de história falam em bilhões de mortes. Para os cultivadores da “vitória a qualquer preço", tanto faz se seus guerreiros e suas máquinas de morte matam cinquenta mil ou um milhão de vítimas. Agem como se exterminam ratos e baratas.               

Nunca se matou tanta gente como no século XX e,  agora, no século XXI.  

E quem prega moderação, diálogo e pacificação também acaba odiado e morto. Há dois mil anos fizeram  isto com o maior pacifista da História. Dizia ele: “Dou-vos  a paz: deixo-vos a minha paz. Mas não do jeito do mundo, porque o mundo não sabe dá-la“ (Lc 10, 5),  (Jo 14, 27). 

Sabe o que é mais trágico? É que há cristãos leigos e até poderosos missionários odiando, vociferando e crispando de ódio, em púlpitos e palanques e na internet; e, tudo, em nome de Jesus...  

Entre eles há ditadores, presidentes de nações e até fundadores de igrejas,  cujo discurso é de confronto e enfrentamento. Não sendo deles não presta. Diálogo? Não aceitam e não querem!  Acham que são fortes e que vencerão!          

Se nunca leram, deveriam ler Mateus 25, 31-46.  

Fazem um inferno para quem não pensa, não crê ou não concorda e não se junta a eles. Mas, segundo Jesus, eles já vivem em trevas (Mt 6, 23). Antes de cair no inferno já o levam dentro deles (Jo 3,19)! 

O Céu é para os serenos, os criadores e cultivadores da paz (Lc 10, 6)!  A falsa paz Jesus rejeita. A dele é um combate incessante pelo diálogo!  É a teologia do próximo e da vizinhança.  

Você já deve ter lido isto na sua Bíblia!…

 

Reticências, escolhas certas, critérios serenos e doutrinas sólidas!

 

O perigo para qualquer pregador ou pregadora, seja ele ou ela sacerdote ou leigo, é aderir sem nenhuma reticência a um partido ou a um líder político.  

Reticência significa “reter”, “não aderir em tudo”, “ reservar-se e preservar-se”, e não só em matéria de doutrina, mas, também, na política.    

A palavra critério supõe escolha. É como catar arroz e feijão no tempo dos nossos avós. Hoje vem tudo catado e limpinho, mas no meu tempo de menino havia impurezas e detritos no saco de feijão. Escolhíamos! Era preciso e divertido!

Como hoje muita coisa já vem pronta e ensacada,  achamos que tudo que compramos vem puro. Nem sempre!  

Sobretudo a fé, a política e as ideias vêm cada dia mais impuras!  

O pregador da fé não deve confiar em pacotes prontos de fé ou da política. Há muita mentira, muitas notícias falsas gritadas nos púlpitos e escritas na internet, como se aquilo fosse a última versão da Palavra de Deus.  

Na política, por ódio ao capitalismo americano ou ao comunismo russo ou chinês, há pregadores cada dia mais incapazes de distinguir entre as doutrinas.  Até porque noventa por cento dos brasileiros não leem. Confiam no que ouvem ou nos resumos da internet! Quase nada vem por inteiro.  

O resumo feito pelos outros resume a vida da maioria dos crentes de agora.  Não se compra nem se folheia livros. Nem mesmo Bíblia e Catecismo. 

Doutrina social católica; teologia da libertação corrigida - sem seu viés marxista - é a teologia da libertação bíblica que está em 73 livros da bíblia católica e 66 da bíblia evangélica; tudo isso seria  suficiente para os pregadores cristãos saberem que não se adere fanaticamente a nenhum líder político e a nenhum partido.   

Jesus tinha critérios. Dialogou, mas, não aderiu a nenhuma  das correntes partidárias em Israel. E foram três delas que, de agressão em agressão,  e de mentira em mentira,  levaram Jesus à cruz.  

É que aqueles pregadores da 'verdade judaica' tinham aderido de corpo e alma às verdades gregas ou romanas,  e colocado a  sua sobrevivência política em primeiro lugar.   

A Washington e a Moscou de hoje era a Roma de ontem. Vendiam-se ao estrangeiro!

Jesus não contemporizou e não cedeu,  nem ao procurador romano, nem ao rei, nem aos partidos políticos da época!  Ele sabia o que queria.

Repito: pregar sem reticência é o mesmo que pregar sem coerência. Não se deve vender a alma nem a um político, nem a um pregador: se ele virou político seu  púlpito virou palanque!

E pregar   ideologia não é  o mesmo que pregar teologia.  

O pregador sereno e verdadeiramente cristão será sempre caluniado,  porque ousa bater de frente com os adeptos de algum partido ou de algum ídolo da hora. 

Se o pregador for cristão nunca assinará em baixo da agenda de nenhum partido. Escolherá  esta ou aquela pauta, mas nunca o partido por inteiro e, mais ainda, nunca aplaudirá tudo o que o candidato berra no palanque.   

 

Você, talvez, já viu as consequências do fanatismo político e religioso na sua própria família. É triste, mas está acontecendo!   

 

Um dia, talvez! Quem sabe?…

 

Quando todos os pregadores de todas as igrejas de fato tiverem estudado a Bíblia, sobretudo o Novo Testamento… 

Quando eles se levantarem de manhã meditando sobre fraternidade e misericórdia,  e pregarem isto nos púlpitos… 

Quando os fiéis, nas suas cadeiras e bancos tiverem ouvido Jo 17, 1-26; Col 3, 1-11 e  Lc 6, 20-26...   

Quando os pregadores de todas as igrejas tiverem estudado Teologia, Exegese, História do Cristianismo, História das religiões, Sociologia  e a história violenta desses últimos cento e cinquenta anos no mundo…

Talvez, os púlpitos e as plateias parem de ver a fé como palco e palanque e comecem a falar com serenidade, sobre como se pode ser irmão, mesmo com divergências.  

Então, o mundo odiará menos, gritará menos e dialogará mais. Como estão hoje os enfrentamentos políticos e religiosos, as sagradas escrituras viraram violentas rupturas.  

Eu releio Jo 17, 1-26 quase todos os dias.  

Quanto aos que entram na minha página para atacar, caluniar e agredir,  eu já aprendi como lidar com seus espinhos.  A fé me deu luvas de couro. Há roseiras que sempre terão espinhos, mas os jardineiros sabem como colher as suas flores!

 

Pe. Zezinho SCJ (José Fernandes de Oliveira) - https://www.facebook.com/padrezezinhoscj

 

Escritor de mais de 300 livros, milhares de artigos e professor de comunicação, pioneiro e referência da música cristã; inúmeras dentre suas mais de duas mil canções (com letras sempre conforme a original doutrina cristã) estão entre as mais cantadas por católicos, evangélicos e outros, ainda que, por vezes, nem sequer saibam ser ele o compositor. Nas décadas de 1960 a 1980 foi considerado o padre cantor mais conhecido do mundo: feitos altamente notáveis, já que jamais se submeteu à mídia convencional, não fez média para agradar e tudo que arrecadou  com seus livros, apresentações e discos foi e é destinado a obras sociais. Profundo estudioso e disseminador da história e doutrina da Igreja e das religiões, defensor do ecumenismo, do diálogo inter-religioso e do respeito entre os diferentes. Em 2025 completou 84 anos e há 13 anos, por causa de AVC e outras enfermidades, parou de viajar pelo mundo, reduzindo suas atividades a estudar, compor, escrever e, eventualmente, gravar (raramente com sua voz e somente com pequenas participações).

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