Se usado com consciência e estratégia, o digital pode deixar de ser campo de batalha para se tornar uma ponte rumo a um país mais plural
Em 2018, o Brasil estava fragilizado. A Operação Lava Jato havia exposto escândalos de corrupção em larga escala, o impeachment de Dilma Rousseff dividira o país, e a confiança nas instituições políticas estava profundamente abalada. Foi nesse cenário de descrença, desgaste e indignação que a narrativa do “novo” ganhou força. O discurso antissistema encontrou terreno fértil e o algoritmo passou a mediar o que as pessoas viam, acreditavam e compartilhavam.
Desde então, o país vive uma polarização crescente que ultrapassa o ambiente digital e atinge profundamente as relações sociais, políticas e até familiares. A ascensão de líderes de visões opostas transformou adversários em inimigos, e a desinformação passou a ser combustível para radicalismos, moldando percepções e decisões eleitorais.
A eleição de 2018 marcou o início desse novo ciclo, com Jair Bolsonaro e Fernando Haddad representando polos que dividiram o país. Desde então, as redes sociais deixaram de ser apenas canais de opinião para se tornarem verdadeiras trincheiras de confronto e disseminação de fake news. Em 2022, essa divisão se aprofundou. A chamada “bolha digital” ficou evidente: muitos eleitores passaram a consumir apenas conteúdos que reforçam suas crenças, ignorando vozes contrárias. Isso gerou uma perigosa ilusão de maioria, o efeito bolha amplamente analisado no livro Brasil Digital, que mostra como o ambiente virtual distorce percepções e sufoca o contraditório, empobrecendo o debate público.
Essa bolha é potencializada pelo caos. A polêmica virou moeda valiosa nas redes sociais, gerando engajamento, audiência e alcance. O algoritmo recompensa o conflito: quanto mais provocação, mais visibilidade. O conteúdo moderado raramente viraliza. Isso cria um ciclo vicioso onde as opiniões mais extremas ganham palco, enquanto o diálogo é silenciado.
A polarização política brasileira evoluiu em três estágios: partidária, social e, agora, afetiva. No início, o embate era entre partidos como PT e PSDB. Com o avanço das redes, a disputa invadiu o cotidiano: costumes, religião, educação, sustentabilidade. Hoje, vivemos a polarização afetiva, quando discordâncias ideológicas rompem amizades, dividem famílias e alimentam o ódio.
Esse ambiente é impulsionado por algoritmos que priorizam o confronto, pela fragilização das instituições e pela ausência de educação digital. É nesse contexto que o estudo técnico do comportamento das pessoas no mundo digital, tema central do livro Brasil Digital, torna-se uma ferramenta essencial. Analisar como os sentimentos se manifestam nas redes e como decisões políticas ressoam nos ambientes virtuais é parte do esforço para compreender e enfrentar a radicalização.
As eleições de 2024 trouxeram um novo desafio ao marketing político: romper com o ciclo vicioso da polarização. Casos como o de Pablo Marçal mostraram que há espaço para estratégias autênticas, capazes de mobilizar novas vozes fora do eixo tradicional. Contudo, se a polarização persistir, continuaremos presos a um ciclo que impede o surgimento de novas alternativas.
É preciso criar pontes, e não muros. O marketing político do presente e do futuro tem a responsabilidade de estimular essa diversidade, promover a escuta e abrir espaço para o contraditório.
O Brasil precisa superar a lógica do “nós contra eles”. Se usado com consciência e estratégia, o digital pode deixar de ser campo de batalha para se tornar uma ponte rumo a um país mais plural, mais empático e verdadeiramente democrático.
Alex Maracajá - linkme.bio/alekmaracaja
Empreendedor há 22 anos. Formação em Processamento de Dados e Publicidade. Pós em Gestão HSM, Pós Bigdata. Fundador da ATIVAWEB, 22 anos de atuação em marketing digital e desenvolvimento. Fundador da ABRADI-PB - Associação Brasileira dos Agentes Digitais - Paraíba PB. Diretor Nacional de Expansão da ABRADI BRASIL. Membro da ABCOP - Associação Brasileira de Consultores Políticos. Membro da CAMP - Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político. Colunista do portal Administradores. Autor do livro Brasil Digital.