Sabedoria e erudição nem sempre caminham juntas; frequentemente uma exclui a outra. Humildade não é inversamente proporcional, nem atrelada à posse de bens materiais, e nem todo aquele que parece ou se diz humilde de fato o é.
“Pessoas do bem nem sempre vencem”, mas, aprendem e perseveram, ou poderiam fazê-lo.
Pessoas cultas e instruídas são as mais conscientes e interessadas na continuidade do seu aperfeiçoamento pessoal e profissional? Sim; nem tanto, não todas, nem todas todo tempo. São as mais sensatas, observadoras, inteligentes e bem sucedidas? Sim; nem tanto, não todas, nem todas todo tempo. Pessoas incultas, pouco instruídas e desfavorecidas são as menos conscientes, mais desinteressadas, alienadas, revoltadas, manipuláveis, desqualificadas e fracassadas? Sim; nem tanto, não todas, nem todas todo tempo.
Há infinitas variáveis e a polêmica realidade de que relativamente pouca gente sabe e quer avaliar a si própria com razoável proximidade da verdade: é cômodo e natural exagerar as qualidades que se tem ou supõe ter e minimizar os defeitos, limites e erros. Viver jamais é ciência exata e ponderações a este respeito deveriam abolir o ponto final e conservar a vírgula, as reticências e interrogação.
Refletimos o tratamento e as influências que recebemos: com variações de intensidade e aproveitamento, admitamos ou não. Dizer “ninguém faz a minha cabeça” é uma tolice!
Não falta quem transforme a tolice em cegueira, triste e nociva, quanto mais duradoura seja. Persevero, mesmo que quanta vez me desgaste, em tentar fazer a cabeça de gente boa, impregnada de ideias e atos tolos que aprendeu ao longo do caminho. Por outro lado, sinto-me renovado e confortado cada vez que percebo ter propiciado discreta, positiva e determinante influência no pensar e agir de pessoas com as quais me relaciono. E amo cada vez que agrego melhora no meu próprio ser, influenciado por alguém.
Influenciar é inseparável das relações humanas; ser influenciado também. A influência se realiza propositalmente, acidentalmente, inconscientemente, honestamente ou não, qualificadamente ou não.
Geralmente, os melhores influenciadores nem se preocupam em sê-lo, não se percebem como tais e, principalmente, quando cientes de que o são, são responsáveis, equilibrados, empáticos. Pelos seus exemplos espontâneos e não encenados, propiciam que pessoas saboreiem aquela influência que passará despercebida, talvez, porém, somará valor ao caráter, temperamento e atitudes de quem for influenciado. Dentre estes, quando algum consegue falar a grupos, comunidades e multidões, especialmente, n’algum veículo de comunicação de massa, quanto maior o alcance e a combinação de fatores (carisma, frequência, ordem, ocasião etc.), melhores serão as chances de influenciar, mais qualificada que quantitativamente.
Agentes e grupos interessados somente no próprio umbigo costumam ser eficientes no alcance dos seus interesses individualistas. São os que mais influenciam pessoas, ao tratá-las como meras marionetes sem que percebam e que, ingênuas, ainda sorriem e são gratas aos seus algozes. Dentre esses, quando algum consegue falar a grupos, comunidades e multidões, especialmente, n’algum veículo de comunicação de massa, quanto maior o alcance e a combinação de fatores (carisma, frequência, ordem, ocasião etc.), melhores serão as chances de influenciar, mais quantificada que qualitativamente; e, se, concretamente em favor da coletividade, mais ou só na aparência, no faz de conta ou em menor intensidade. Se aproveitam de duas outras inseparáveis marcas registradas do ser humano: uma, amar ser elogiado, mesmo que saiba haver exagero ou engano no elogio, calando-se conivente, colhendo os louros de imerecida situação, ainda que ao custo de fazer cortesia com o chapéu alheio; outra, gostar de ouvir somente o que soe agradável e cômodo aos ouvidos e à própria inércia ante os seus problemas e responsabilidades intransferíveis.
Há influenciadores desprovidos de má intenção ou repletos das melhores delas, mas, dotados de pouca ou nenhuma formação e orientação, percepção e dedução sensata. No afã de ajudar, ora acertam, ora erram; não empatam: sem querer, fazem ganhar de goleada ou perder aqueles aos quais influenciam.
Todo aquele que se vai caracterizando como influenciador tende a virar o que se denomina formador de opinião: na família, na vizinhança, no condomínio, na nação. Quanta responsabilidade. É natural alguém que se destaque numa atividade, seja importante, capaz e participativo. A delicadeza está em que conta mais parecer ser, mesmo que não seja aquilo tudo, muito pelo contrário, até. Gente bonita, com voz potente e boa de papo, sai na frente. Se tiver estrutura material para seus intentos, facilita quanto mais a possua. Se for famosa ou popular, aí é que dispara no gosto de multidões ou da comunidade.
Depois que a gente gosta e adere, é difícil mudar: e isso faz a alegria dos picaretas exploradores de multidões de boa fé e má formação - que poluem a mídia, a política institucional e a religião de verdade e a de fachada (muitos, e cada vez mais, presentes nas três áreas). Só gente que se vai moldando diferenciada pela força, amplitude e apuro do seu caráter reto e temperamento é que se beneficia da percepção, leitura crítica apurada e acertada, ações e, finalmente, atitudes para consolidar, adequar, incluir ou excluir ideias, conceitos, sentimentos que se vai recebendo cotidianamente, quase sempre, como sendo acertados, melhores, verdadeiros e inquestionáveis; mesmo que não o sejam.
A qualquer um é dado o risco de cair e cegar. Igualmente, o risco de começar ou voltar a enxergar, e levantar. É assim durante a vida toda, de todos. Ninguém enxerga tão bem que não possa ir aprendendo e tentando enxergar cada vez mais e melhor. Não somente no plano profissional, porém, especialmente nele: com o devido respeito aos que garantem que se pode separar e se satisfazer só com um dos planos (pessoal ou profissional), entendo e defendo que todo aquele que realmente seja notável e verdadeiramente profissional, cada vez mais diferenciado porque também criador e inovador, somente o é, por estudar e esforçar para ser, antes e crescentemente, notável como pessoa; sem folgas, recessos e muito menos férias.
Quando você lê aqui no InFormativo PLENA um artigo que fora publicado anteriormente, não é porque eu não tenha artigos inéditos: é que sugiro refletir situações e comportamentos que se repetem, apesar da evolução tecnológica, especialmente.
"Ninguém faz a minha cabeça" foi publicado originalmente em 21 de outubro de 2007. A internet já era popular, mas, comparada com hoje, engatinhava. Não imaginávamos WhatsApp, Facebook, Instagram, Tik Tok, Youtube e quase todo mundo palpitando mais do que antes e alcançando muito mais pessoas sobre quase tudo e quase todos: geralmente, sem isenção, com parcialidade (que, por si só, não é nociva, mas, costuma ser pessimamente compreendida e exercida), sem fundamentação suficiente ou crível ou sem razoabilidade. Com exceções, permanece a incapacidade de entender e identificar fato, boato, versão, opinião e ponto de vista - entre os que se capacitam para tal, muitos, atendem seus intentos massificadores e alienadores. Cada vez mais intolerantes e separados em grupelhos e "bolhas" e EUs. Proliferam produtores de conteúdo e influenciadores digitais: muitos, muito bons e úteis; muitos, muito ruins, inúteis e nocivos - e esses, costumam ser os angariadores de mais seguidores, fãs e influenciados...
Na internet, tão maravilhosa quanto ardilosa, continuam prevalecendo os mesmos padrões comportamentais fragilizantes, ante ardis mais dissimulados e potentes - tais como algorítimos, robôs e inteligência articial a inventar, distorcer, mentir, enganar, a nos reduzir de consumidores para consumistas, e a serviço dos intentos dos infames mantenedores da polarização do "nós e eles".
Entretanto, continua viável pensar o teor de uns meus antigos bordões: tem mais sorte quem se prepara e se empenha mais; e a cada um é dado o direito de escolher. A depender do real caráter de cada um, cabe o lema deste impresso e da radioplena.com.br: também as maravilhas da internet servem "para quem é notável pelo que é, e não pelo que faz de conta ser!"
José Carlos de Oliveira