A razão à qual refere este artigo é a faculdade de raciocinar, apreender, compreender, ponderar; inteligência; raciocínio que conduz à indução ou dedução de algo; capacidade de avaliar com correção, com discernimento; bom senso, juízo.
Agência de empregos, assessoria ou consultoria de recursos humanos também passam pelo crivo de serem selecionadas pelos candidatos a emprego ou desempregados. Candidatos e agências hão de se aproximar mutuamente conforme seus objetivos sejam complementares e convergentes. Até quando a relação não resultar na conquista dum emprego, será fácil recomendarem-se reciprocamente.
Qual seja a época, lugar e contexto, há o risco de eventuais erros de avaliação, às vezes revistas, às vezes injusta e definitivamente conservadas; porém, geralmente, pessoas e empresas sérias, sensatas e capazes se aproximarão entre si. O mesmo se dá, ao contrário, quando, em verdade, forem indivíduos não merecedores destes adjetivos inseparáveis de quaisquer propósitos dignos.
Candidato a emprego é também cliente, embora não pague nada à agência; salvo se quiser contratar e pagar uma consultoria, em condições claras e lícitas, uma delas, a não garantia de (re) colocação no mercado.
Empregador, enquanto possível cliente também deve ser selecionado. Para tanto, precisa-se de bom senso e este, exige coragem: do candidato ao emprego disponível, pelo risco de descartar-se a si próprio e, se estiver desempregado, continuar sem salário; e da agência, assessoria ou consultoria, pelo risco de ser trocada por outra e não poder contar com a hipótese daquele honorário. É recusa que poderá afetar o bolso de quem a praticar.
Dizer ‘não’ para quem quer lhe empregar, conforme o motivo e modo de fazê-lo pode ser demonstração de respeito por si e pelo empregador. O mesmo deveria ocorrer quando a agência recusa aceitar determinado cliente empregador. Em todos os casos, repito, em havendo clareza nos motivos e argumentos, os envolvidos podem sofrer algum desgaste imediato, porém, não maior que a posterior respeitabilidade pela coerência uns dos outros; significando manutenção da chance de sérias e proveitosas relações futuras.
Quando a vontade é dizer e ouvir um ‘sim’, dizer ‘não’ é difícil e ouvir ‘não’ o é extremamente mais. São previsíveis os comportamentos de candidatos a empregos para vagas às quais tenham interesse, porém, não necessariamente, qualificação e adequação; e dos empregadores, que também tendem a pensar – parcialmente, inicialmente ou definitivamente – que se os postos de trabalho não são preenchidos e/ou mantidos, satisfatoriamente, a responsabilidade não seria, em parte, deles. Todos nós erramos e erraremos, no entanto, quantas vezes em nossas atividades e relacionamentos, após analisar honesta e criteriosamente dada situação, concluímos que acertamos ou realizamos o melhor possível. Mas, agindo em prol do nosso aprimoramento e dos outros com os quais interajamos e os quais se disponham ao mesmo, podemos tentar contribuir para que o processo seja melhorado! Que você acha?
A agência diz ou deveria dizer ‘não’ ao empregador que a queira contratar em duas situações: uma é quando os serviços que ela presta não contemplam os justos interesses do possível cliente, caso em que poderia recomendar quem o possa fazer; e outra quando a solicitação, dado ser ilegal e abusiva, não se conseguirá atender ou caso seja atendida, resultará na cumplicidade da agência na geração de uma relação trabalhista irregular ou ‘manchada’, denunciando o que ela é realmente, contradizendo seu discurso e propaganda.
Como o ofício de selecionar pessoal é repleto de sutilizas, eis que são presentes no cotidiano da agência e do selecionador outros riscos. O mais sério e capaz dos selecionadores pode não conseguir o candidato adequado para o mais sério e atrativo empregador. Ou não consegui-lo com rapidez comparável a de um atendimento anterior. Resta ainda a possibilidade de apresentar o melhor candidato para um excelente empregador; se, na prática, não interagirem bem a relação de trabalho cessará dias ou semanas após.
Ora, se isso pode ocorrer entre pessoas e empresas sérias e sensatas, imagine o que pode acontecer quando da falta de um desses quesitos, ou, mesmo presentes, afetados pelas pressões e desgastes surgidos no curso das relações.
Como num casamento, no caso de descontentamentos, desavenças e até separação, a responsabilidade poucas vezes é somente de um, tal se dá também num processo seletivo e numa relação de trabalho. Quando a relação é a ‘três’, ou seja, envolve a agência – recrutamento, seleção, orientação, treinamento e acompanhamento – esta, mesmo se acertar tudo e sempre, o que é impossível, há de ser a favorita a “pagar o pato”: quando um ou demais envolvidos, nas piores situações, não perseverarem para ponderar, dialogar, ajustar e ceder para tentar ganhar/acertar conjuntamente. Guardadas as devidas proporções, dá-se algo parecido quanto a quem indica um terceiro, mesmo com seriedade e alguma razoabilidade: para o elogio ou crítica, justa ou não, seu nome será lembrado como ‘quem’ indicou...
A agravar, contra os mais sérios, preparados e equilibrados empregadores e selecionadores, muita gente que está ou quer entrar no mercado de trabalho teima em aderir a conceitos, ações e intenções que deixaram de ser ou nunca foram típicos das grandes pessoas e verdadeiros profissionais: muitos se conservam empregados na iniciativa privada e no serviço público, com longevidade e até algum destaque, merecido ou não... Mas, muitos mais vão ficando para trás, à margem, e enquanto não se tocarem e corrigirem, tanto pior será. Permanece comum o desapreço pelo esforço para realmente estudar e realizar, permanentemente; e permanece comum o apreço pela abjeta “Lei de Gerson” e pelo jeitinho etc. Uma marca típica desta era são os muitos ótimos navegadores na internet: e péssimos pensadores, nela, antes dela, apesar dela e independentemente dela... Ante tal realidade, como digo há décadas: para quem se dispuser a sair dessa mesmice, a concorrência real é bem menor que a aparente...
Por essas e outras, dentre as indispensáveis virtudes do verdadeiro e diferenciado profissional de recrutamento e seleção, do “caçador de cabeças” ou talentos, do mentor, orientador ou treinador de pessoal, está saber que toda a sua excelência não impedirá a insatisfação de parte dos bons clientes – candidatos, empregados e empregadores – com os quais trate: também nesta área, reflexo do que acontece numa sociedade cada vez mais individualista, consumista, superficial, fundamentalista, imediatista e separatista, com exceções, cliente é convicto de que sempre tem razão, mesmo que nem sempre a tenha!
Este artigo, em certa medida, é a segunda parte de "A razão de cada pessoa!"
José Carlos de Oliveira