Sempre foi! Jesus morreu crucificado porque não só orou chamando Deus de "meu Pai", mas, porque ousou ter dito que o reino também seria para os pobres e para os que queriam mudanças em Israel!
Pregou política e fé sem nenhuma conotação de esquerda, centro e direita (1). Mas uma das exigências era a mudança de vida e o amai-vos uns aos outros! Ele dialogou com todos, até com quem o lhe fazia oposição!
A Igreja tem milhares de vagas para novos pescadores de almas. Mas são poucos os que aceitam levar esta pesca para o alto mar. Param até onde dá para ver a margem…
Quando percebem que não basta louvar, divulgar novas devoções e pregar mudança de vida... param ali! Isso milhões aceitam. Mas o alto mar da fé é perigoso demais!
Quando se trata de defender os oprimidos e os goel (2) da vida, os marginalizados e de ter a coragem de ir lá ao invés de eles virem cá, coragem de bater de frente com os opressores, ir socialmente mais fundo, muitos só aceitam remar até onde dá pé...
É que descobrem que ajoelhar-se diante do sacrário, mesmo sendo um trabalho super necessário, porque orar (3) também dói, é muito mais dolorido e perigoso ir lá fora, enfrentar políticas (4) injustas e tentar mudar as leis que sempre favoreceram os que já tem quase tudo!
Foi isso que fizeram a Gaudium et Spes e as mais de 40 encíclicas sociais desde os últimos 150 anos, desde Leão XIII ao Papa Francisco. Nossos Papas remaram para o profundo da sociedade. E sempre foram atacados... (5)
Jesus morreu sem aderir a nenhum partido, mas ousou mudar o que já estava ótimo para os donos da fé e das alianças com os dominadores romanos. Ousou tomar o lado do povo sem nenhuma chance.
Assim como hoje, naqueles dias, as cobranças de impostos chegaram a 60% do que o povo produzia e caluniaram quem ousou pregar um novo jeito de ser pessoa e povo. Este era o novo reino de Jesus. Mas, para Jesus, seus seguidores teriam que se converter, ser fraternos e unidos (6). Era uma construção penosa, mas valia a pena mudar os rumos de Israel.
Acusaram Jesus de ser cria de Belzebu e de semear divisão em Israel. E Ele só queria semear justiça e paz!
Dos doze apóstolos, o traidor se matou e só um sobreviveu, não sem pagar seu preço. Dez deles morreram assassinados pelos poderosos. E Paulo, que veio depois, primeiro perseguira os cristãos e se convertera, de verdade, morreu decapitado.
Pregar justiça e paz dói. Mas é melhor um púlpito que dói no pregador do que um púlpito que só dói no povo!... (7)
Nós e nossos espinhos na carne! Façamos de tudo para não escorregar achando que já chegamos.
A frase bíblica é outra, mas o sentido moral é o mesmo. Em Paulo (1Cor 10, 12) há uma advertência para cônjuges, solteiros, bispos, padres, pastores e políticos. Cuidado para não escorregar!…
Não há modelos de vida intocáveis. A luta pela conversão e pela fidelidade diária vai até à última nesga de lucidez e até o último suspiro da vontade.
Tudo se resume no “posso mas não quero, desejo mas não quero, poderia mas já escolhi; tentado eu sou, mas creio na graça do céu, porque se depender só de mim, eu cairei."
No tempo de Jesus havia o fariseu convicto, o saduceu convicto e o essênio convicto. E também havia o sicário e zelota convicto. Com o tempo vieram os cristãos convictos. Todos eram convictos e “invencíveis". “Deus os tinha escolhido.”
Convicto vem de “vencer“. Os convictos em geral se acham vitoriosos na fé.
É uma das pregações mais usadas em certos púlpitos. Usam algumas frases de São Paulo (8). Só não citam as outras, nas quais ele confessa que fracassou e errou feio na vida. E, mesmo depois da conversão, ele repetia que ainda tinha espinhos na carne (2Cor 12, 7). Nunca disse que tipo de espinhos o feriam.
Nenhum dos santos tinha a garantia de que não resvalaria ou não cairia em pecado! Oravam e recitavam trechos da Bíblia para serem bons judeus ou israelitas e cristãos.
Mesmo assim pecavam por orgulho, ira, desejos da carne, traição, infidelidade ou violência em nome do país ou da fé. E todos os que pecavam sabiam que estavam pecando contra outra pessoa, outro homem, outra mulher.
Mas os mais espertos ajustavam suas crenças, usando a "Bíblia" (9) da época ou os mestres e líderes da época para adiarem a conversão pessoal.
Eram todos calculistas e imediatistas. Santo Agostinho de Hipona (10) resumiu isto numa sentença magistral:
“Converte-me, Senhor, mas não agora!..."
Paulo de Tarso, sempre magistral, disse aos Coríntios (2Cor 6, 2-4):
"É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação. Não damos a ninguém motivo de escândalo, para que o nosso ministério não seja desacreditado” (11).
O pecado do mau exemplo faz milhões de vítimas!
Os que perseveraram até o fim (Mt 10, 22; At 2, 42; Cl 4, 2) repercutiram João Batista e Jesus que não adiaram a conversão de ninguém (Mt 18, 3).
Se queriam ser fiéis a Deus: tempo era aquele. A vida sobe e desce. Quem quiser chegar lá em cima, pise firme e com cuidado, porque o terreno da santidade tem trechos escorregadios.
Os escorregões que mais quedas provocam são o orgulho, a fama, a vaidade, a alta estima, o instinto sexual incontrolado, a gula, a bebida, os tóxicos e a falsa espiritualidade que leva a falsas pregações estilo:
“Deus está me dizendo agora”.
“Deus quer”.
“Deus mandou”.
Quase sempre é mentira de gente piedosa e sem conhecimento de Bíblia (12).
Todos eles acham que pararão quando quiserem e que se converterão quanto estiverem prontos! Mas nunca estarão prontos, exatamente porque adiaram o tempo da decisão.
Para Isaías, Jeremias, João Batista e Jesus o tempo era agora. Não se adia o Céu. Não se brinca com o convite do Céu.
Não quer agora? 'E que certeza você tem de que haverá uma nova chance?
E os doze números entre parênteses? Leia abaixo!
Pe. Zezinho SCJ (José Fernandes de Oliveira) - https://www.facebook.com/padrezezinhoscj
Escritor de mais de 300 livros, milhares de artigos e professor de comunicação, pioneiro e referência da música cristã; inúmeras dentre suas mais de duas mil canções (com letras sempre conforme a original doutrina cristã) estão entre as mais cantadas por católicos, evangélicos e outros, ainda que, geralmente, nem sequer saibam ser ele o compositor; foi considerado o padre cantor mais conhecido do mundo: feitos altamente notáveis, já que jamais se submeteu à mídia convencional, não fez e não faz média para agradar e tudo que arrecadou com seus livros, apresentações e discos foi e é destinado a obras sociais. Profundo estudioso e disseminador da história e doutrina da Igreja e das religiões, defensor do ecumenismo, do diálogo inter-religioso e do respeito entre os diferentes.
Para ampliar o entendimento de um artigo ou texto
Pela presença, na página 6, de uma das maiores referências nos temas, não tenho publicado aqui (edição impressa do InFormativo PLENA) meus artigos sobre fé, religião e espiritualidade. Nesta edição, porém, atrevo partilhar um de meus hábitos: ao ler livros e artigos, vinculo a alguns pontos conteúdos que já possuo e pondero, pesquiso e amplio o entendimento do conteúdo em questão e dos demais que utilizei. É como a bibliografia ou indicação de conteúdos adicionais que os professores e outros formadores sempre recomendam e os alunos e outros destinatários, com exceções, sempre ignoram. Tento ser uma das exceções. Escolhi doze pontos: embora equivalha a ter falado de cada só um trilionésimo do que se poderia falar, espero, venha a ser de valia para você, tanto quanto o é para mim.
(1) As posições políticas esquerda e direita surgiram em 1789, após a Revolução Francesa. "Não existem critérios absolutos que definem conceitualmente todo o campo da esquerda ou da direita. A diferença entre os dois lados é posicional e não de uma definição teórica. Os sentidos dos termos são diferentes para cada pessoa, em cada local e época. Especialistas tentam explicar que não há como dividir a política em dois grandes blocos e que o assunto é mais complexo do que se imagina." O Cristianismo original ensina que o indispensável é um real bom caráter e as percepções e objetivos dele decorrentes, com intensidade e equilibrio: é quando até diferenças ajudam a agir pelo bem de todos - respeitando-se mutuamente, acima de suas idades, raças, crenças, naturalidades, nacionalidades, gostos e opiniões. Mas, esta é a era das narrativas; precisas ou imprecisas, prevalecem as mais invasivas e nocivas a cidadãos e nações: estas e aqueles, cada vez mais polarizados, afastados, rancorosos, raivosos e beligerantes. Harmonia familiar e comunitária é preciso mais do que nunca, pois, em todos os continentes proliferam ditaduras e ditadores disfarçados de democratas...
(2) O “goel” na sociedade hebraica/judaica seria aquele que toma por responsabilidade auxiliar um parente em dificuldade e vítima de alguma injustiça. Então, no Novo Testamento, a expressão é associada a Jesus Cristo e a humanidade necessitada de auxílio. Vinte séculos depois, contina disseminada a falta de respeito, compaixão, empatia, tolerância, fraternidade, correspondência e, mesmo, de fé, inclusive, especialmente, entre muitos dentre os líderes e liderados religiosos! Ainda que humanamente falíveis e limitados, os "goel" são atualíssimos e indispensáveis à sociedade moderna, como agentes de consolo, escuta, apoio, para caminhar junto, como fontes de moral e ética real e consistente.
(3) Oração só se valida se não for egoísta, escapista, preconceituosa, supersticiosa, fundamentalista, acovardada, acomodada, e se for sucedida por intenções, atitudes e hábitos coerentes e consistentes. Orar bem contribui para a realização plena!
(4) Inúmeras pessoas incorrem no erro de achar que política é só partidária ou institucional e que todos os envolvidos nela não prestam. Porém, somos todos políticos (se honestos e sensatos) ou politiqueiros (se desonestos e insensatos). Política é: “A razão, a moral, a prudência, a experiência, o sabor de administrar os diversos interesses e necessidades sociais, a favor da coletividade. Arte do diálogo e da persuasão que objetiva o estabelecimento de uma relação mutuamente consentida e respeitosa; arte do convívio com o mínimo de conflito; busca permanente da harmonia e do equilíbrio na vida em sociedade”.
(5) Seria justo, inteligente e proveitoso, antes de concordar ou discordar, aderir ou não: estudar, informar-se, suficiente e permanentemente para ir aprendendo a deliberar, decidir e agir. Porém, esta é a era dos abundantes auto proclamados especia-listas em quase tudo e quase todos, dos influenciadores digitais, dos cancelamentos e lacrações, ao nível rasteiro de fanatizados, destemperados e desinformados torcedores de futebol. A maravilhosa tecnologia que ajuda a edificar cérebros, caracteres, personalidades e temperamentos, é a mesma que ajuda a conservar multidões na indigência de intelectualidade, moral e ética: o que é abundante nas redes sociais e espaços para leitores, mesmo quando se esconde em pseudônimos e avatares, revela como tem gente que se acha e posa de picanha, mas, precisaria evoluir para deixar de ser carne de segunda ou terceira - quanta vez, em posições "chave" na sociedade e "fazendo cabeças". Cultura, conhecimento e inteligência são possíveis até para o mau caráter e o tapado; para os demais, só se plenificam se acompanhadas de empatia, sabedoria, diálogo, paciência, tolerância etc.
(6) Muitos viram agentes pastorais, pregadores, clérigos, participam de celebrações e seguem ritos. Mas, crer é mais que só acreditar, seguir costumes e leis, mais por medo e conveniência. Exige integralidade de fraternidade e de unidade (respeitadas as diferenças ou diversidades), e de honestidade (apesar da falível e limitada natureza humana). A Graça alcança a todos, mas, é com cada qual querer, se esforçar e se transformar em pessoa "nova" a cada situação e dia. Vale muitíssimo a pena, mas, para contentar os incontentáveis apreços pela vaidade, obtusidade, intolerância e oportunismo, por exemplo, se está próximo de quarenta e oito mil denominações auto entituladas igrejas: isso, mesmo que em grande parte do mundo nem existe liberdade religiosa, cristãos são perseguidos e mortos (claro, lá, os professores e porta-vozes de Deus e "picaretas" da fé alheia não são valentes ou presentes...).
(7) Agente pastoral, pregador, clérigo, fiel ou seguidor: muitos o são por vocação e espontaneamente, com oração e formação permanente e coerente, com gratuidade (ainda que nem sempre gratuitamente, em situações adequadas e sem abusos), com humildade, apesar da vaidade nossa de cada dia. Por outro lado, um observador atento, ao sintonizar qualquer emissora de TV e rádio, ao conectar-se aos inúmeros canais e redes sociais na internet, e nas comunidades religiosas, não terá dificuldade para encontrar quem ora pelos necessitados e excluídos, mas, não se envolve, não se compromete, ao menos, com alguns deles, concretamente. Muitos se valem da boa fé alheia para mais se servir do próximo do que o servir.
(8) Paulo, que já era chamado também de Saulo e que já era religioso e tinha fé em Deus antes de se tornar cristão, nas belas e claras cartas que ditou e escreveu com seus auxiliares e nas que foram atribuídas a ele, deu ênfase quanta vez mais pastoral que teológica, alertando, exortando e defendendo um comportamento realmente digno de Cristo e Sua Igreja, por parte dos que se diziam e tentavam ser cristãos: como hoje, naquele tempo, tanta gente se achava mais e melhor que outros, mais santa e menos pecadora, mais salva enquanto condenava em pensamentos e palavras a outras; e havia os afastamentos e discriminações e separações que até hoje são misto de constrangimento com contradição - não do Cristianismo, sim dos cristãos...
(9) A Bíblia, tal como a conhecemos, é posterior à Igreja e deriva dela: existe o cânone inicialmente oficializado e até hoje vigente; e uns outros, até posteriores, quase todos mais propostos do que de fato em algum momento utilizados. Os judeus, assim como se deu com os cristãos, também definiram após estudos, discussões e divergências quais livros comporiam o seu Livro Sagrado: o fizeram depois de Cristo e antes dos cristãos. Livros escritos séculos após os fatos por eles narrados; sapienciais, le-gislativos, poéticos, proféticos, apocalípticos, narrativos, epistolares; com parábolas, metáforas, hebraísmos, antropoformismos etc; com autores identificados ou não; da Torá (para judeus) ou Pentateuco (para cristãos) ao livro da Revelação ou Apocalipse, são fartos os registros de um corportamento padrão: até aceitar a existência de Deus, O admitindo como Aquele que tudo sabe, tudo pode, tudo vê, perfeitamente amoroso e determinado a proporcionar só o que é bom para todos, mas, adaptar o Todo que Ele é a um cardápio reducionista, imediatista, do tipo fast food, para agradar à preguiça, acomodação, vaidade e hipocrisia do pretenso crente...
(10 e 11) Assim como Tiago e Paulo, quando cada qual em dado contexto enfatiza a fé e as obras, não se contradizem, mas, se complementam, Agostinho e Paulo ensinam que a conversão verdadeira não se procrastina e, ao mesmo tempo, não é pronta e acabada. Um adágio popular diz que "Não sabemos do amanhã" e eu digo que não sabemos nem do nosso daqui a pouco!... Somos obras inacabadas e inacabáveis; imperfeitos, porém, perfectíveis, num processo todos os dias e toda a vida: outros crentes e não crentes conforme os princípios basilares da ética clássica e das virtudes; e crentes cristãos, também, e especialmente, tendo por mestre de fé e de obras o ensino e o exemplo de Jesus Cristo - sem superficialidades e simulações...
(12) É comum gente com boa fé e pouca ou má formação: suas orações são mais à base de superstição do que fundamentação, suas percepções e ações são mais à base de achismo do que estudo concreto e correto, e sua devoção logo descamba para devocionismo. Por mais que se possa e deva estudar profundamente o transracional, não se tratando de ciência exata, é tendência deparar com pessoas a terceirizar suas responsabilidades a Deus. Ora, Ele é o Protagonista, mas, pela fé n'Ele, é necessário ao fiel assumir a parte que lhe cabe, desenvolver o apreço pelo esforço para evoluir gradativamente, o que passa por estudar, trabalhar e conviver bem. Fanáticos, obtusos e oportunistas bons de lábia se valem de crédulos e ingênuos para amealhar adeptos, seguidores, patrocinadores, poder e dinheiro: além da cara de pau de mentirem ser confidentes e porta vozes de Deus, de Jesus e do Espírito Santo, para supostas maldições e outros problemas culpam ao diabo, quando, além do já sugerido, bastaria, geralmente, bom senso e atitude; às vezes, um bom tratamento médico ou psicológico.