“O óbvio nem sempre acontece”. Essa é uma frase que explica bem o resultado das redes sociais. O correto e lógico seria pensar que plataformas que fazem com que pessoas interajam independentemente do horário e distância fossem fazer elas se unirem, de forma a conscientizar o mundo que as relações sociais são importantes. Entretanto, como podemos ver, não foi isso que aconteceu nos últimos anos.
As rede sociais se tornaram as próprias relações sociais
Em nenhum momento, as pessoas imaginaram que as redes sociais viriam a se tornar as próprias relações sociais. Essa é uma afirmação tão viva que nos dias de hoje é comum que os jovens se comuniquem bem por meio delas. Entretanto, ao ficar frente a frente – no mundo real – com as mesmas pessoas que conversam apenas online, se veem acanhados, tímidos e amedrontados ao se relacionarem fora da Internet.
As redes sociais tiraram o peso da comunicação presencial, que é importante para o desenvolvimento de uma pessoa. O medo de comunicar-se era, aos poucos, enfrentado no dia a dia. Se a pessoa não enfrentasse esse medo, não faria amizades, não conseguiria paquerar nem trabalhar em grupos. Qualidades que são fundamentais.
Como o diálogo acontece, atualmente, em maior volume virtualmente do que pessoalmente, essa barreira demora um tempo maior para ser quebrada pelas pessoas. Como consequência, temos cada vez mais jovens com problemas de relacionamento, comunicação e dificuldade em expor as suas próprias ideias.
As redes sociais nos afastaram
Como as redes sociais nos tiraram a “pessoalidade” da comunicação, trouxeram como consequência a solidão. Mesmo sabendo que entrando em alguma das principais redes sociais – como Facebook, Instagram, Snapchat e Twitter – encontraremos centenas de amigos, não é como se eles realmente estivessem próximos de nós. Sendo assim, a qualidade da amizade foi substituída pela “quantidade de amigos”.
Essa nova realidade trouxe o mais novo problema emocional, conhecido popularmente como FoMO (fear of missing out, em inglês). Em outra palavras, é a reação que revela o medo de ficar por fora – das redes sociais virtuais – sem repetir os padrões e consumir curtidas, comentários e fotos dos amigos ou mesmo reproduzir esses temas. Esse novo problema emocional necessita de que várias pessoas utilizem as redes sociais. Dá-se inicio quando uma pessoa não se sente bem e acessa uma delas, como o Facebook – como uma bengala emocional.
A sociedade do espetáculo
Apesar de haver uma intenção positiva em ver o perfil e os posts do amigo, acontece um efeito contrário: ao ver, a pessoa se sente ainda pior. Isso acontece porque Facebook é o “espetáculo” de nossas vidas, sendo assim, não mostra o “bastidor”.
A grama do vizinho é mais verde?
O “espetáculo” é o que é aparente, que são fotos viagens, diversões e namoros. Tudo isso se mostra como perfeito. Mas todo espetáculo tem seus bastidores e é nesse lugar em que se encontram as brigas, as discussões, os desafios, as tristezas, as dificuldades, e todos esses problemas ficam “atrás das cortinas”. Nenhum usuário do Facebook consegue ver na vida do amigo o lado ruim – gerando inveja e desconforto.
Em outras palavras, ninguém consegue competir ao comparar seu “bastidor” com o “espetáculo” do outro. É uma comparação desleal e o indivíduo sequer consegue ver essa realidade. Como consequência, tem um novo sentimento ruim e renova o ciclo.
Ainda estamos começando a entender o impacto que as redes sociais causaram ao longo do tempo em nossa sociedade. Este artigo não foi escrito para fazer você se afastar delas, mas para que você possa refletir sobre o como está utilizando as redes sociais e que passe, a partir de hoje, a refletir melhor sobre o tema e os seus efeitos.
Augusto Cury - Médico psiquiatra, psicoterapeuta, pesquisador e escritor. O especialista é autor da Teoria Inteligência Multifocal, que analisa o processo de construção dos pensamentos. Ao longo de 30 anos de carreira, alcançou o reconhecimento nacional e internacional, tornando-se um dos autores mais lidos da última década.