Durante muito tempo, ter fluência em inglês foi considerado um dos principais diferenciais competitivos no mercado de trabalho brasileiro. Era comum encontrar essa exigência em praticamente toda vaga de emprego que oferecesse boas oportunidades de crescimento. Saber se comunicar com clareza, participar de reuniões internacionais e consumir conteúdos técnicos em outra língua eram habilidades que colocavam um profissional à frente. Hoje, no entanto, um novo tipo de fluência começa a ocupar esse espaço com força total: a fluência em inteligência artificial (IA).
E não, isso não é nenhum exagero. Estamos diante de uma virada de chave importante. Ignorar esse movimento é, em muitos casos, o mesmo que aceitar ficar para trás em uma corrida cada vez mais competitiva. A transformação digital já não é novidade — o que muda agora é a velocidade com que a IA está sendo incorporada no dia a dia das empresas, dos processos e das profissões.
Um exemplo bastante emblemático vem da Zapier, uma das empresas mais conhecidas do mundo quando o assunto é automação de processos e integração de ferramentas digitais. Com atuação global, a companhia estabeleceu uma régua clara e objetiva para avaliar a fluência em IA de seus colaboradores, considerando as necessidades específicas de cada área — de Marketing a Produto, de Gestão a Desenvolvimento de Software.
Segundo Wade Foster, CEO da empresa, não se trata mais de um diferencial opcional, e sim de uma exigência mínima para qualquer novo contratado. Ele foi enfático ao afirmar que dominar pelo menos um nível básico de fluência em IA é obrigatório, e que evoluir esse domínio é uma expectativa contínua para todos que desejam crescer na empresa. Isso significa que habilidades como apenas saber usar ferramentas prontas ou testar um ou outro prompt de IA não são mais suficientes. É preciso entender como a IA funciona, construir bons prompts, avaliar respostas com criticidade, conhecer os limites da tecnologia, garantir segurança no uso e, principalmente, aplicar esse conhecimento para impulsionar resultados concretos.
Outro exemplo relevante — e ainda mais próximo da realidade brasileira — vem do Duolingo, uma das maiores plataformas de tecnologia educacional do mundo. Em um comunicado recente, o CEO da empresa, Luis von Ahn, anunciou uma mudança estratégica significativa: o Duolingo adotará uma abordagem “AI-first“, ou seja, a inteligência artificial deixará de ser apenas uma ferramenta de suporte e passará a ser o núcleo do funcionamento interno da empresa.
Mais do que isso, a organização começará a considerar o uso eficiente da IA como critério formal em avaliações de desempenho. Em outras palavras: ser fluente em IA não será apenas bem-visto — será uma competência essencial para permanecer e progredir na empresa.
Essas movimentações indicam algo muito maior do que simples atualizações tecnológicas. Estamos presenciando uma transformação estrutural e profunda no mercado de trabalho global. A IA deixou de ser uma promessa futurista para se tornar um novo idioma profissional, que todo trabalhador, de qualquer área, precisa começar a dominar com urgência.
Empresas que ignorarem essa realidade correm sérios riscos de se tornarem obsoletas em termos de produtividade, inovação e competitividade. Da mesma forma, profissionais que resistirem a aprender e aplicar IA no seu dia a dia provavelmente verão suas oportunidades diminuírem e suas carreiras estagnarem.
O que antes era visto como uma competência técnica de nicho agora é uma linguagem universal dos negócios. A fluência em inteligência artificial está rapidamente ocupando o lugar que, um dia, foi da fluência em inglês. E assim como aconteceu naquela época, a pergunta que se impõe agora é direta e inevitável:
Você já é fluente em IA?
Diogo França
Diogo França é Diretor da XP Educação, onde lidera as áreas de Estratégia, Tecnologia e Growth. Com trajetória marcada pela construção de produtos e por transformações de grandes empresas, combina visão de negócios com domínio técnico. Economista de formação, tem se dedicado à integração da IA na educação, criando soluções que preparam profissionais para os desafios do futuro. Sua liderança está focada em posicionar a XP Educação como referência em transformação digital no setor educacional. https://www.linkedin.com/in/francadiogo - https://www.xpeducacao.com.br/podcast-acelerai