Engajamento: um diferencial competitivo para o futuro do trabalho
Formação profissional
Publicado em 16/01/2025

Engajamento está relacionado à participação ativa, envolvendo comprometimento, compromisso, envolvimento e dedicação. Além disso, conecta-se com aspectos emocionais como afetividade, satisfação e motivação.

 

Se ainda havia dúvidas sobre a importância do engajamento dos colaboradores para os resultados das empresas, a pandemia reforçou os inúmeros benefícios de dar atenção a esse tema. 

Segundo um relatório do Instituto Gallup, 31% dos brasileiros estão engajados em seu trabalho, um aumento de 3% em relação ao ano anterior. Apesar do progresso, o número evidencia que há muitos desafios pela frente: quase 70% ainda estão desengajados.

Ao analisar o engajamento por gerações, os dados da 2ª edição do Engaja S/A, realizada pela FGV-EAESP em parceria com a Flash e o Talenses Group, destacam como as diferentes gerações no ambiente de trabalho possuem necessidades e perspectivas distintas. 

Enquanto a geração Baby Boomers é a única em que a maioria dos profissionais se mostra engajada, as demais apresentam níveis preocupantes de desengajamento: mais da metade dos profissionais da geração X (57%), Z (56%) e Millennials (54%). 

Esses dados reforçam a importância de estratégias personalizadas para atender às expectativas e motivações de cada grupo geracional no ambiente corporativo.

Além disso, quase seis em cada dez brasileiros (56%) se declaram desengajados ou ativamente sem engajamento com as empresas em que trabalham, segundo a pesquisa, que entrevistou 2.736 pessoas de todas as regiões do País.

Esse cenário evidencia que o engajamento no trabalho não é apenas um desafio isolado, mas uma questão estratégica que impacta diretamente o sucesso das empresas. 

Colaboradores engajados tendem a ser mais produtivos, criativos e alinhados aos objetivos organizacionais, enquanto o desengajamento pode levar à alta rotatividade, queda na qualidade do trabalho e perda de competitividade no mercado. 

Assim, compreender as causas do desengajamento e adotar práticas que promovam maior conexão e pertencimento entre os profissionais é essencial para construir uma cultura organizacional sólida e sustentável.

 

Mas o que é um profissional engajado?

 

Segundo os pesquisadores Schaufeli, Salanova, González-Romá e Bakker (2002), o engajamento no trabalho é definido como um estado mental positivo, caracterizado por vigor, dedicação e absorção. 

Em outras palavras, são pessoas que encontram prazer nas atividades que realizam e buscam manter um equilíbrio positivo entre o trabalho e sua saúde mental, física e emocional.

Esse conceito ultrapassa a ideia de que o entusiasmo dos colaboradores deve ser apenas uma meta para aumentar a lucratividade ou a produtividade da empresa. 

Embora o engajamento muitas vezes resulte em impactos positivos nos resultados organizacionais, como maior eficiência e inovação, essa relação não é automática. 

O que realmente importa é o valor da experiência positiva que estar engajado proporciona, tanto para os indivíduos quanto para as organizações, criando ambientes mais saudáveis e sustentáveis.

 

As características de uma pessoa engajada são marcantes:

 

Vitalidade: pessoas engajadas são energizadas e autoconfiantes. Elas enfrentam desafios com resiliência, mesmo em situações adversas, e mantêm a motivação mesmo quando enfrentam contratempos;

Dedicação: profissionais engajados estão conectados emocionalmente ao trabalho. Demonstram entusiasmo, orgulho e atribuem um significado positivo às suas atividades diárias;

Concentração: essas pessoas se sentem totalmente imersas no que fazem. Enxergam o trabalho como um desafio prazeroso e, frequentemente, perdem a noção do tempo devido à profunda absorção nas tarefas, conforme descrito por Mihaly Csikszentmihalyi.

Um profissional engajado vai além de simplesmente cumprir suas obrigações. Ele é capaz de alinhar seus próprios valores e propósito aos da empresa, trabalhando de forma integrada para alcançar tanto objetivos pessoais quanto corporativos. 

Esse engajamento reflete um compromisso genuíno com o sucesso da organização, que se traduz em maior produtividade, inovação e realização no ambiente de trabalho.

Como enfatiza Shawn Achor, no livro “O Jeito Harvard de Ser Feliz”, um ambiente positivo e alinhado ao propósito da empresa não apenas inspira os       colaboradores, mas, também, estimula a criatividade e a inovação, criando uma dinâmica de trabalho em que todos podem prosperar.

 

 

Como engajar as pessoas no trabalho?

 

Mas, quais são os fatores que levam ou elevam o engajamento no ambiente de trabalho? 

Segundo a pesquisa “Engaja S/A”, os principais fatores que promovem o engajamento no ambiente de trabalho são: Camaradagem, que contribui para um ambiente positivo; Valorização de opiniões e Fit com o perfil, ligados ao significado no trabalho; e, na categoria de boas práticas de gestão, relacionamentos, objetivos claros, simples e transparentes. 

Esses elementos mostram como conexões interpessoais e gestão eficiente impulsionam o engajamento.

Ainda de acordo com a pesquisa, Paul Ferreira, professor da FGV-EAESP, “a camaradagem é um aspecto cultural fortemente valorizado no Brasil, algo que não se reflete em pesquisas globais”.

O impacto revelado na pesquisa revela uma forte relação entre o nível de engajamento e a intenção de pedir demissão dos colaboradores. Entre os profissionais ativamente desengajados, 93% consideraram deixar o emprego nos últimos três meses. 

Já entre os engajados, esse índice cai significativamente para 53%, evidenciando o impacto do engajamento na retenção de talentos.

Para engajar colaboradores de forma eficaz, é essencial adotar ações genuínas e alinhadas estrategicamente aos objetivos da empresa. 

Embora essas iniciativas possam ser lideradas pelo time de Recursos Humanos, o envolvimento e a prática por parte da liderança são indispensáveis para alcançar resultados consistentes. 

 

Confira algumas sugestões:

 

Escutar ativamente: dar voz aos colaboradores fortalece o senso de pertencimento e estimula a inovação;

Promover reconhecimento: valorizar conquistas, grandes ou pequenas, reforça o esforço individual e coletivo;

Definir uma visão clara: compartilhar metas e resultados com transparência mantém o time alinhado e motivado;

Desenvolver liderança humanizada: líderes empáticos e cuidadosos criam ambientes mais engajados e produtivos;

Oferecer treinamentos e capacitações: investir no desenvolvimento dos colaboradores aumenta a motivação e o comprometimento.

Além disso, a proximidade com a alta liderança da empresa desempenha um papel significativo. Momentos informais com o CEO ou fundador, como cafés da manhã ou reuniões descontraídas, podem fortalecer os laços entre colaboradores e a companhia.

 

Pela perspectiva do colaborador, confira os dez aspectos mais valorizados pelos profissionais citados na pesquisa:

 

Respeito e companheirismo;

Adequação das habilidades do profissional ao cargo que ocupa;

Diversidade e inclusão;

Bom relacionamento com os colegas;

Objetivos de trabalho claros e transparentes;

Impacto gerado pelo colaborador na empresa;

Propósito da empresa gera identificação;

Processos de trabalho bem definidos;

Equilíbrio entre a vida profissional e pessoal;

Treinamento e suporte para o desenvolvimento profissional.

Vale ressaltar que ações de engajamento precisam ser projetadas para serem perenes, sustentáveis e alinhadas à cultura e aos objetivos do negócio. Apenas com estratégias consistentes é possível criar um ambiente de trabalho verdadeiramente engajador.

 

Como medir o engajamento dos colaboradores

 

 

Medir o engajamento dos colaboradores é fundamental para compreender o clima organizacional e identificar pontos de melhoria que podem impactar diretamente nos resultados da empresa.

Essa análise fornece dados valiosos para direcionar estratégias mais assertivas, permitindo alinhar as necessidades das equipes aos objetivos corporativos. 

Além disso, ao monitorar o nível de engajamento, é possível prever problemas, reduzir a rotatividade e fortalecer a produtividade, garantindo que as ações implementadas sejam eficazes e sustentáveis a longo prazo. 

 

Engajamento bem medido é sinônimo de decisões estratégicas mais embasadas e resultados mais sólidos.

 

Pesquisas de Clima Organizacional: ferramentas como questionários anônimos ajudam a identificar os principais desafios e pontos fortes na cultura da empresa;

Indicadores de Rotatividade (Turnover): a rotatividade pode ser um sinal claro de baixo engajamento. Empresas engajadas têm índices de turnover três vezes menores;

Feedbacks Construtivos: realize conversas individuais e em grupo para coletar percepções sobre o ambiente de trabalho;

Avaliações de Performance: use métricas de desempenho para identificar colaboradores mais engajados e áreas que precisam de atenção;

Diagnóstico e Observação de Comportamento: a disposição dos colaboradores em participar, sugerir melhorias e colaborar entre si também indica níveis de engajamento;

A Utrecht Work Engagement Scale (UWES) é uma escala internacional que avalia o engajamento no trabalho. Aplicada no Brasil por algumas consultorias;

 

Pesquisa Pulse – Pesquisa de Satisfação Interna. O nome “pulse” remete a uma “verificação de pulso”, ou seja, um diagnóstico rápido. As pesquisas pulsem são curtas, aplicadas com frequência e se concentram em questões específicas e críticas.

Com base nesses dados, é possível desenvolver planos de ação específicos para fortalecer o engajamento e transformar o clima organizacional. 

Mais importante do que a frequência com que as informações são coletadas, é saber analisá-las e traduzi-las em estratégias que gerem benefícios concretos ao negócio. 

A dica é começar de forma realista: implemente ações que estejam ao alcance dos recursos disponíveis e mantenha uma periodicidade que permita acompanhar os resultados e realizar ajustes continuamente.

 

Conclusão

 

A importância do engajamento dos colaboradores no ambiente corporativo não pode mais ser ignorada, especialmente diante dos desafios revelados por pesquisas recentes. 

Ele é mais do que uma métrica organizacional: trata-se de um fator estratégico que impacta diretamente a produtividade, a retenção de talentos e, consequentemente, os resultados da empresa. 

Por meio de ações genuínas, lideranças humanizadas e práticas sustentáveis é possível criar um ambiente em que os colaboradores se sintam valorizados, alinhados ao propósito da organização e motivados a entregar o seu melhor.

Medir e monitorar o engajamento é essencial para entender as dinâmicas internas e agir de forma proativa. Dados bem analisados permitem à empresa implementar estratégias personalizadas, que promovam não apenas melhorias no clima organizacional, mas, também, resultados financeiros expressivos. 

O engajamento, quando tratado como prioridade, se torna um diferencial competitivo, capaz de transformar empresas em ambientes mais inovadores, colaborativos e prontos para enfrentar os desafios do mercado.

 

Juliana Dimário

 

Head de Pessoas e Cultura da CBYK Consultoria e Seastorm Ventures, com certificação Internacional em Psicologia Positiva pelo WholeBeing Institute, Chief Hapiness Officer (CHO) pelo Instituto Feliciência, com MBA em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas e graduação em Comunicação Social pela Universidade Metodista. Profissional voltada a Cultura Organizacional, Bem-estar e Comunicação Corporativa, com mais de 15 anos de experiência atuando em empresas de grande porte e multinacionais, na área de engajamento e clima organizacional, branding, jornada de cliente, comunicação corporativa e marketing de produtos.

 

Comentários
Comentário enviado com sucesso!

Chat Online