Quando chegar o Natal e o Ano Novo, quem tiver mais dinheiro tenderá a comprar castanhas e panetones a preços maiores. Quem tiver menos comprará pedaço de melancia e panetone em promoção e os mais baratos. Quem não tiver nada…
Com exceção de quem não veja nada nestas datas ou tenha outro motivo, escolheremos a castanha, panetone ou melancia olhando as condições da embalagem ou casca, o cheiro, a aparência geral; provaremos um pedacinho, se possível. Mesmo nas liquidações e fins de feira, sabendo que temos as sobras e os restos, tentaremos escolher o produto com melhores condições, conforme nosso gosto e entendimento: sensato ou equivocado, básico ou profundo, e até influenciado por terceiros.
Você pode não ser patrão ou empregador ou seu preposto, mas, é um consumidor e deve ter sentido familiaridade entre os parágrafos acima e o seu próprio cotidiano nos mercados, feiras e lojas. Tente imaginar-se empregador, seja de micro ou de mega porte. Considere que você, seu preposto ou departamento específico, ou por intermédio de agência, assessoria ou consultoria de recursos humanos, precise recrutar e selecionar candidatos para completar ou ampliar a equipe da empresa que possui ou representa. Do básico ao alto nível: você adotaria, ou não, na essência, o mesmo princípio que se usa para comprar melancia ou outros produtos e serviços?
Conforme suas possibilidades, interesses, valores e critérios, empregador, recrutador e selecionador vai tentar identificar o candidato a empregado que apresente características, pretensões, qualificações e adequação convergentes, ao máximo, com suas necessidades e possibilidades.
Você poderá dizer que existe patrão incompetente e explorador. Mas também existe patrão competente e explorado ou injustiçado. Excelentes empregados não seriam ou não serão, necessariamente, excelentes empregadores. Para a excelência, nas diversas atividades e funções, liderando ou liderado, é preciso estudo (muito além do formal) e esforço constantes, identificando, administrando as características e qualidades, potencializando estas e gerando outras; e eliminar ou minimizar os limites ou defeitos. E tudo isso não é desabonador: cada qual com seus predicados faz parte de um todo e todos contribuem para o êxito coletivo e individual de cada um.
O que é desabonador? O indivíduo habituado a reclamar e a desqualificar os empregadores, como se eles todos fossem privilegiados, folgados e os causadores dos males da sociedade: com exceções, é o tal que, como empregado (e no todo, em geral), é medíocre; e, ao invés de se tocar e agir para evoluir para vir a ser excelente profissional – empregado ou empregador e, nas duas condições, empreendedor – contenta-se em posar de crítico e especialista sobre assuntos dos quais sabe pouco ou nada e atividades para as quais não é apto, ainda ou em definitivo...
Você poderá dizer que existem injustiças:
“Sicrano é burro e preguiçoso, mas, é funcionário público e tem estabilidade”. Mas ele fez algum ou muito esforço e passou num concurso; e muitos funcionários públicos merecem o salário que recebem e o título de servidores (que servem – bem – aos cidadãos). Não é justo desabonar os muitos sérios e capazes por causa dos que serão adiante flagrados como vadios e desonestos.
“Fulano foi contratado por ser parente ou apadrinhado ou indicado”. Mas sempre aconteceu e acontecerá. Questionar critérios, intenções e meios? Claro, mas com fundamentação e razoabilidade; não por simples implicância, ignorância e inveja. Mesmo um processo seletivo altamente técnico, ao máximo imparcial e isento, resultará numa indicação e seus riscos inerentes: dar ou não dar certo, na prática, até quando e a que nível de qualidade. Infinidade de variáveis resultará em benefícios ou prejuízos para os mais dedicados e merecedores de oportunidades e desafios, e para os que se revelarão meros parasitas e incompetentes: imutável diferença entre o mundo ideal e o mundo real...
“Exigem experiência anterior comprovada”. Mas cada vez mais os bons recrutadores, selecionadores e contratantes evoluem no seu foco e com maior flexibilidade, tolerância e empatia. Ao mesmo tempo em que, não por evolução e sim por adaptação à realidade, precisam contratar candidatos sofríveis em sua formação geral, num contexto de permanência pouca, rotatividade muita, para funções que estão ou estarão em processo de extinção, substituídas por máquinas, software, IA (o que é muito bom, para preservar saúde física, mental e emocional e melhorar resultados) ou por novas funções ou profissões (exigentes de melhor formação dos pretendentes, o que é um desafio que este país ainda carece enfrentar efetivamente).
Exigir experiência anterior não é regra e não é imperativo para tudo. O que “mata” não é a inexperiência ou experiência de menos ou em parte: é a falta de suficientes ou quaisquer qualidades básicas, típicas de um ser humano minimamente interessante. São aqueles predicados que quase todos fazem constar (e poucos apresentam de fato ou em bom nível) em seus currículos, portfólios, entrevistas, dinâmicas de grupo, provas situacionais, postagens em redes sociais e conversas por aí, dentre eles: garantir ser ético, pró-ativo, de fácil relacionamento, bem formado e informado, com vontade de aprender e realizar etc.
Você poderá citar inúmeros outros preconceitos. Acontecem, infelizmente, devem ser combatidos sempre, podem ser a causa do desemprego de muitos, mas, não de todos.
Você poderá dizer que teve azar e outro teve sorte…
O ideal nem sempre ou nunca será alcançado totalmente, afinal, é variável conforme valores, percepções e interesses de cada pessoa e coletividade, em cada lugar e época; e num mundo permanentemente repleto de injustiças e desigualdades, com guerras, ditaduras explícitas e disfarçadas, corrupção e oportunismo disseminados, até, e muito, em nome de Jesus, Espírito Santo e Deus, nas diversas formas de referir a ele. Sempre existirá gente de mau caráter...
Porém, se não somos perfeitos, somos perfectíveis, então, nosso ideal pode e deve ser permanentemente buscado e construído: por exemplo, patrões e empregados competentes e honestos, juntos, numa relação justa e harmoniosa.
E como construir isso? Certamente, gastar a vida a afirmar e sentir que seu desemprego (ou seu emprego medíocre, sem ascensão e de baixa remuneração) é culpa ou responsabilidade de todo mundo, menos de você, também, principalmente, é o seu primeiro e maior erro. Eliminar esse pensamento equivocado tem que ser sua primeira lição a aprender e praticar. Se você é vítima de injustiças (e quem não é e não promove alguma, mesmo sem querer ou perceber?), também é injusto ao simplesmente condenar ou responsabilizar terceiros sem antes refletir e tentar colocar-se no lugar deles e perguntar-se: “Será que eu não faria a mesma coisa”?
Se você se dá ao direito de tentar escolher as melhores melancias, porque um empregador correto e capaz escolheria uma melancia estragada, fora do ponto ou de má qualidade (empregado instável, revoltado, sem vontade, sem qualquer qualificação significativa, obsoleto ou “velho”)? E, por melhor que seja o candidato ao emprego disponível, pode não ser o que o empregador queira e precise naquele momento. Ou quer e precisa, mas não pode contratar.
Nós passaremos nossas vidas escolhendo e sendo escolhidos. As melhores pessoas e profissionais (em todos os níveis e lugares) serão sempre as mais requisitadas (mesmo quando não contem com apadrinhamentos, dinheiro ou… sorte). Mesmo que fracassem ou venham a ser descartadas, às vezes, sempre serão as favoritas ao sucesso. Você pode ser pobre e simples; pode ter dificuldades muitas – que outros não têm ou tiveram, mas, não precisa ser sempre o último da fila. Afora exceções graves ou gravíssimas, ninguém é tão limitado a ponto de não saber realizar nada e ser incapaz de melhorar. Agora, precisa crer e querer e tentar, todos os dias da sua vida (a isto se pode chamar de sorte?). E não adianta ser imediatista: é investimento de longo prazo e para a vida inteira.
Está entre as prioridades das verdadeiramente grandes pessoas (aqui entendidas como dotadas de bom caráter): jamais procurar, nunca aceitar “raspas de tacho”, promoções, situações, ocasiões e companhias enganosas. Tais como: diplomas e certificados do tipo “pagou passou”, à base de “colas”, decorebas e outras trapaças; conversa fiada de picaretas exploradores da boa fé e má formação alheia; companhias online e presenciais que não agregam e subtraem tempo, paz e concentração; não saber a diferença entre “navegar” e “afundar” na internet e na mídia em geral.
Estudantes, estagiários, terceirizados, temporários, efetivos, desempregados, autônomos, empregados, empregadores, líderes, liderados, concursados, nomeados, eleitos, voluntários, “do lar” e aposentados, para que sejamos ou venhamos a nos tornar verdadeiramente excelentes em nossos relacionamentos e atividades, saberes e competências, presenteemos a nós mesmos com o melhor, sempre: agindo e esforçando para nos desenvolver e evoluir para eficientes, eficazes, produtivos, criativos e inovadores. Não seria um maravilhoso presente de Natal, todos os dias?
Estas são ponderações aplicáveis a todas as atividades e relacionamentos pelos quais valha a pena se dedicar?
Revisões e reflexões a cada fim de ano? Claro! Novos propósitos para cada início de ano? Claro! Nenhuma dependência à mudança de ano para deliberar, decidir e agir concretamente? Claríssimo!
Porque todo ano novo, 365 dias depois, poderá ser chamado de "velho", como naquela canção. Mas você e eu, qual seja a nossa idade, a cada início de ano ou aniversário, seremos um pouco mais idosos, porém, jamais, “velhos!”
Que tal?
José Carlos de Oliveira - https://josecarlosdeoliveira.com.br/