“Ser igual ou ser exemplo?”
Formação profissional
Publicado em 25/06/2023

O homem que "sabe fazer a parte dos outros" e não a dele:     

- Vi essa vaga no jornal e vim para começar a trabalhar.

- O senhor trouxe currículo, documentos e referências?

- Não. O anúncio não pedia nada disso, moça!

- Desculpe, está aqui, com licença (indicando o anúncio no jornal comprado pelo próprio candidato). Mas podemos resolver; o que importa é que o senhor esteja apto para a vaga, não é mesmo?

- Me dá o endereço da firma que vou lá agora!

- Calma, não é bem assim. Posso explicar como precisamos fazer e…

- Então (interrompendo a pessoa que o atendia), para que anunciaram a vaga? Eu vi, estou de acordo com o perfil e se você não me disser qual é a empresa vou denunciar vocês na rádio X e no Ministério (supõe-se, o do Trabalho)!…

- O senhor está exaltado. Acredito que não seja fácil, mas, assim não poderemos tentar ajudá-lo. Procure se acalmar!

- Calma? Já deixei meu currículo em todo lugar, sempre dizem que vão me chamar e nunca chamam. Só deixo o currículo aqui se você garantir que o emprego é meu!…

 

O homem que parece clone do homem de cima:

Na recepção da agência o atendente ausentou-se por não mais que dois minutos, a serviço. Nesse intervalo, chegou um rapaz, entre 30 a 40 anos, caminhar lento, cheio de pose, mãos nos bolsos. Entrou, desagradou-se com o lugar vazio, olhou o ambiente de alto a baixo, com desdém, não leu as orientações à sua frente, nem mesmo o pedido para aguardar um momento, dirigiu-se à uma moça, que acabara de sentar e esperava atendimento. Disse-lhe:

- É incrível como essa gente consegue trabalhar desse jeito!…

E começou a retirar-se com a mesma pose e lentidão, apressando o passo, sem olhar para trás, ao notar que o atendente ouvira seu comentário. Na verdade, também vira sua atitude, pela vidraça que separa a recepção da outra sala.

O atendente e a moça cumprimentaram-se efusivamente: ela viera agradecer, após completar um mês no novo emprego, conseguido por intermédio da agência, que conhecera por indicação da irmã; já umas dez pessoas ligadas por parentesco ou amizade, haviam travado relações com a agência – duas conseguiram emprego por ali e todas tinham em comum bons comentários a fazer quanto ao atendimento que lhes é dado.

 

Dois casos reais, não isolados, há outros, piores, quanto ao uso de ignorância, intolerância e indolência.

Desempregado adepto de ideias e atitudes assim geralmente perdeu o emprego por causa delas: atrapalham seu passado, seu presente e seu futuro – enquanto tenha olhos, mas, não saiba enxergar. Os dois protagonistas, se dessem sua versão, talvez, confirmassem convicção do "seu" acerto e do "meu" erro.

Amo o dizer duma antiga propaganda: “Ser igual ou ser exemplo?” Serve para qualquer pessoa, dependendo do que cada qual queira fazer da própria vida. Todos nós temos nossos momentos de igual ou de exemplo. Acomodar em ser igual vai impossibilitando ser exemplo. Agir e habituar em ser exemplo vai impossibilitando ser igual.

O que vai ser? Ser igual é cada vez mais fácil; ser exemplo é cada vez mais indispensável!

 

“Ser igual ou ser exemplo” foi publicado originalmente em 2006, quando já se imaginava o quão maravilhosa viria a ser a internet, com possibilidades, à época, inimagináveis.

Num mundo cada vez mais acelerado e em mutação, continuam demais as pessoas que não mudam no que deveriam ou poderiam mudar e mudam no que não deveriam mudar...

Há duas décadas já me preocupava com isso; meu ofício profissional era recrutar, selecionar e qualificar pessoal para o mercado de trabalho, e já repercutia na esperança de encontrar gente interessada em pensar, refletir e agir para sair da mesmice: 

Formação pessoal antecede a qualificação profissional. Com a primeira se poderá alcançar a segunda; sem a primeira dificilmente se alcançará a segunda!

Hoje, percebo o quanto era bem mais preparado que muita gente, o quanto  era ignorante e desqualificado em comparação com o que sou ou tento ser; e, com todos os meus constantes esforços e estudos, constato o quanto preciso melhorar e o quanto existe gente com mais inteligência, conhecimento e sabedoria que eu. 

Por mais que alguém seja hábil, especialista e até notável n'alguns assuntos e atividades, quanto mais o seja, mais consciência terá de que precisa ser aprendiz  permanentemente acerca daquilo em que já é muito bom, continuando ignorante de infinidade de outras atividades e assuntos. Algo óbvio, mas, o que se vê fartamente nas redes sociais, comentários de leitores dos portais de notícias, corredores de empresas, almoços, púlpitos, microfones, tribunas  etc atesta que existe uma cegueira disseminada  ante tal obviedade... 

Uma segura maneira de no cotidiano deliberar bem, decidir bem e executar ou agir bem é ser compreensivo e acessível a quem está ou parece ainda estar aquém do patamar ao qual se chegou; não sentir inveja de quem está ou parece em condições melhores, não acomodar e conservar o entusiasmo. Ora aprendendo, ora ensinando, ora concordando, ora  discordando, ora tolerando, ora tolerado, com empatia e harmonia: quanta vez é difícil, resulta em erros por ação ou omissão e gera desgastes; no entanto, é a única opção para vir a ser plenamente realizado e é sempre  gratificante! 

Se o primeiro parágrafo em negrito pareceu obscuro: talvez, eu seja um tolo, ou, seja para despertar curiosidade em quem realmente quer sair da média ou  mediocridade, se desenvolver e se notabilizar...

O segundo parágrafo em negrito facilmente encontrará quem com ele concorde. O desafio instigante é que autor e leitor se conscientizem que para crescer e desenvolver é preciso habituar a perceber e reconhecer que a incompetência, negligência, indolência, impertinência, ignorância etc são encontradas também na pessoa que cada um de nós vê quando diante do próprio espelho. Aí, trocando o círculo vicioso pelo virtuoso, como já dito: deliberar bem, decidir bem e executar ou agir bem...

Abraço fraterno!

 

José Carlos de Oliveira

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